domingo, 30 de novembro de 2008

DA JORNADA DA VIDA...

O caminho que antes brotava das dúvidas,
trilha agora passos curtos;
sem devaneio, sem ilusão,
sem o sonho fantástico que brotava do chão,
somente o rastro de misteriosas súplicas.
O caminhante que antes corria;
agora devaga, agonia.
Trazendo consigo calos nos pés
e a fronte sofrida,
com a visão nublada do destino
e a vontade de sentar à beira da estrada.
Sem carona, nem destino de chegada;
espera um carro, uma viv'alma,
alguem que lhe tire
do funebre odor, da fossa
e da mais tristes das doenças:
a solidão de caminhar só.

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Vazio

Depressão...
Vida vazia...
Tempo de sobra...
Pior do que viver é não saber viver...
Para uma alma terrificada, viver representa o purgatório dela própria...
Alma, partícula maleável que absorve as impressões da realidade...
Realidade...
Variabilidade...
Condicionamento...
Com o tempo você deixa de ser você mesmo para ser a realidade...
Com o tempo a realidade se desdobra ao seu caminhar por ela...
Com o tempo não existe eu nem nós...
Existe...
Persiste...
Simula...
Dá pra viver consigo mesmo?
É possível, mas pode se tornar desagradável...
Eu, vida, tempo, realidade, alma...
O mundo é maior que o ser, mas o ser compreende o mundo...
A compreensão traz ao ser algo maior do que ele...
Compreender e inchar... Inchar até explodir...
Explodir espalhando sangue e carne para todos os lados...
"Ah... foi só um corpo que explodiu.”
Quem compreende o corpo que explode? O mundo? A realidade? A alma?
Eu? Você?
O vazio... É o lugar do corpo que explode...
Vazio de sentimentos, vazio de sentidos, vazio de calor, vazio de compreensão e entendimento...
Do nada ao nada!
Explodir de vazio não é tão diferente do de cheio, o vazio também enche, estar vazio se torna possível pela compreensão da falta de enxerto.
Substância...
Consistência...
Coerência...
A falta das coisas é comum... Não saber o que falta também...
Falta saber o que falta...
E pode ficar faltando a vida toda...
Só vejo vidas cheias de ilusões, pessoas sendo arrastadas pelo desejo de conquistar seu espaço, espaço que em breve não terá mais o cheiro de seu suor, pois haverão outros conquistadores, e haverá o espaço “vazio”.
Ninguém e nem nada segura o homem...
Homem...
Espaço...
Vazio...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Os dias

Denovo aqueles ruídos matutinos,

O carro de propaganda,

O movimento do passeio,

O reggae na casa do vizinho,

Uma briga, um desatino,

Uma conversa na esquina,

O desfilar sublime da menina.

Tudo segue sua linha,

Todo aquele cotidiano,

Sem ambições, sem planos,

Descalços no chão do destino,

Esperando uma surpresa, algum motivo,

Em vão.

E o dia acaba,

Como todos e como tudo.

Vem e vão,

E não sobram histórias,

Nem de vitória, nem de derrota,

Só sobra a esperança,

De ter esperança,

Que um dia isso mude

E que eu volte a olhar a vida

Com olhar de criança.

sábado, 22 de março de 2008

Metáfora

Acho que essas palavras são bem colocadas:

Metáfora

Uma lata existe pra conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível.

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível.

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.

Gilberto Gil